Se a vossa justiça não exceder a dos escribas e fariseus, de modo nenhum entrareis no reino dos céus. Mateus 5:20
Sidney Fernandes
Tivemos a oportunidade de conviver alguns dias com um assassino que matara seu adversário à faca, pelas costas. Era um homem de formação protestante, que continuava apegado ao Evangelho e se justificava com passagens vingativas da Bíblia, apoiadas por Deus. Repeliu as nossas explicações de que a Bíblia é uma coletânea de livros judeus e nos disse, com assustadora firmeza: “Se ele me aparecesse agora redivivo, eu o mataria de novo.” (Educação para a Morte, J. Herculano Pires)
Surpreendemo-nos com o ódio de obsessores desencarnados, que perdura por longo tempo.
No entanto, encarnados defrontados por perseguições contínuas, questões de honra e prejuízos financeiros, podem perder o equilíbrio e os sentimentos mais embrutecidos passam a dirigir suas ações. A fera que existe em nosso interior desperta e às vezes não é contida.
Levar a sério as recomendações éticas do Evangelho contém os instintos primitivos do homem e motiva-o à mansuetude. No entanto, por falta de explicações racionais de algumas seitas ou pela intransigência arraigada, o homem não raramente coloca à mostra o lado inferior de sua
natureza espiritual.
Mais tarde, segundo nos disseram, o seu coração se abrandou. Tivera um sonho com o adversário morto, que lhe pedia perdão, em lágrimas, por havê-lo levado ao desespero do crime.
A troca de vibrações mentais entre os dois, um despojado da vida e o outro da honra, somente não se prolongou indefinidamente no tempo, por clara interferência da misericórdia divina.
Um caindo em si e o outro abrandando seu coração.
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Ter justiça e comportamento semelhantes ao de fariseus e escribas significa ter religião cristã e não praticá-la. A forte expressão “sepulcros caiados” representa a conduta “aparentemente” boa, de acordo com convenções sociais, mas na essência deteriorada. Infelizmente muito
comum no mundo atual, a religiosidade cristã só de aparências em nada previne os desequilíbrios da vida. “Orai e Vigiai para não cairdes em tentações.” No momento da injustiça, da agressão, da perseguição moral e da lesão aos nossos patrimônios, podemos perder o equilíbrio e o nosso lado inferior pode vir a prevalecer. Ninguém vira anjo de uma hora para outra. Por isso, o efetivo exercício da religião cristã e da contenção de nossos maus impulsos passa pela constante ligação com o Alto.
Peçamos os socorros da intuição e dos nossos protetores espirituais. Liguemo-nos mentalmente a eles, durante a maior parte do tempo possível de nossas vidas. Misticismo?
Fanatismo? É a única solução. Se pretendemos a condição de seguidores do Cristo para valer, sem a hipocrisia de escribas e fariseus, pratiquemos o bem. O esforço para domar as nossas más inclinações e a preocupação com o próximo são fundamentais para o exercício do
cristianismo e a melhor vacina contra nossas intempestividades.