Sem Religião não há Salvação? -Sidney Fernandes

SEM RELIGIÃO NÃO HÁ SALVAÇÃO?
Sidney Fernandes

No atacado as religiões trazem a mesma mensagem essencial. Todas aceitam a existência de um Deus único, a imortalidade da alma, o aperfeiçoamento da conduta humana e o bem que venhamos a realizar nesta vida. A moral do Cristo encontra-se em toda parte, em todas as crenças, em todas as religiões e em todos os livros sagrados.
Templos religiosos
Preciso frequentar algum templo religioso para me salvar?
Normalmente, as pessoas somente conseguem se concentrar nos princípios de uma religião se tiverem outras ao seu redor para incentivá-las. Lembro a história de um homem que, depois de muito tempo frequentando uma igreja evangélica, parou de comparecer.
O pastor lhe fez uma visita e tirou da sua lareira uma brasa muito viva. Assim que ela se afastou das outras, esfriou e se tornou negro carvão. O homem entendeu imediatamente quantos benefícios a presença dos outros estavam trazendo para o seu desenvolvimento espiritual e, silenciosamente, aceitou a mensagem do visitante.
É possível você levar a sério a sua religião, mesmo sem frequentar um centro de convivência, mas sem dúvida é mais difícil. O espirito de emulação vem do grupo.
A medicina está recomendando a religião?
A ciência moderna acabou de constatar que a espiritualização faz bem para o corpo, previne doenças, diminui batimentos cardíacos exagerados, regulariza a pressão arterial e promove diminuição de inflamações e infecções.
Médicos estão recomendando a elevação espiritual de seus pacientes, interesse por outras pessoas, reflexão e meditação, conscientes da existência de um poder absoluto, acima das convenções humanas. Notemos bem que os cientistas não estão recomendando uma religião, mas a espiritualização do indivíduo.
Fábula árabe
Existe uma fábula árabe que descreve a ida de um pobre homem, que vivia num deserto e foi encaminhado para regiões celestiais. Lá encontrou sacerdotes de várias partes do mundo, todos muito bem apresentados e bem vestidos. Foi abordado por dois encarregados que queriam saber seu nome e que religião representava.
Respondeu que jamais havia professado qualquer religião e que se limitara a dar assistência aos viajantes do deserto, fornecendo-lhes água, pouso, alimento e remédios. Os enviados do senhor disseram que iriam registrá-lo como alguém que havia amado profundamente o seu semelhante. Mais tarde o morador do deserto foi chamado para conversar com o Senhor.
A salvação não está nas religiões
A salvação, não no sentido escatológico, mas de evolução, não está nas religiões e sim na transformação do indivíduo. Já não notamos como ficamos felizes quando fazemos o bem e deixamos outras pessoas felizes? Isso acontece porque o homem é intrinsecamente bom e seu interior somente precisa ser burilado.
A espiritualização independe de seu credo religioso. Ele pode, sim, ter empatia, preocupar-se com o bem-estar do próximo, ser bom cidadão e manter-se em ambiente de paz e de saúde física/emocional, mesmo sem professar qualquer crença religiosa.
Como ficam os ateus?
Muitos ateus são melhores do que alguns religiosos de carteirinha. São menos hipócritas e fazem o bem desinteressadamente ao semelhante, sem ter consciência de que estão trilhando o caminho do Evangelho do Cristo. Devemos manifestar nosso reconhecimento aos que não creem no além desta vida e mesmo assim são bons e fazem o bem,
altruisticamente.
Cidadania
Outro exemplo de conduta espiritualizada, sem ligação com qualquer religião, está na cultura da boa cidadania. O bom cidadão, que é amável no trânsito, interessa-se pela limpeza de sua cidade, participa de campanhas educativas e cuida bem de sua família já está cumprindo com a sua obrigação de cristão, embora não tenha consciência disso.
Quem assim age, mesmo sem interesse religioso, está agindo abnegadamente. Estamos diante da conduta ideal, consoante preceitos divinos.
Inquietações filosóficas
Poderíamos terminar nosso texto por aqui. No entanto, há aqueles que estudam e pensam e começam a ficar intranquilos e com dúvidas filosóficas. De onde vim, por que estou aqui e qual será o meu futuro? Por que existem tantas diferenças físicas entre as pessoas? Algumas nascem com corpos privilegiados e outras com deficiências. Qual a razão para algumas pessoas nascerem altamente intelectualizadas e outras despreparadas sob o ponto de vista cultural? Qual a razão para tantas diferenças sociais e econômicas?
O sofrimento, a deficiência, a doença e o desemparo, ao longo da vida, provocam revolta, incredulidade, indolência e empurram o desventurado para o crime e para o vício. Esse indivíduo somente conseguirá manter seu equilíbrio, se agarrar-se a uma crença e apegar-se a Deus e se for amparado pela sociedade, corresponsável por sua sobrevivência social.
Para que essas pessoas se equilibrem não bastará o conhecimento de qualquer religião e o cultivo de princípios éticos e morais. Precisarão de conhecimentos mais avançados sobre a vida. Vão precisar estudar a teoria palingenésica, ou seja, das múltiplas vidas, a lei de causa e efeito, a lei da sintonia psíquica e a lei divina que prevê que cada um colha segundo sua semeadura.
Poderão ocorrer, portanto, dúvidas filosóficas, quando começarem a indagar o porquê e o para quê da vida em profundidade. Essas inquietações somente diminuirão à medida que aceitarem a vida como passageira e que Deus tudo provê e a ninguém desampara, seja nesta ou em futura existência.
A partir daí, não mais importarão crenças, pois estarão no seio do plano verdadeiro e definitivo.