VOCÊ É SÓCIO DA T.B.C.?
-Sidney Fernandes
Toda ocupação útil é trabalho.
O limite do trabalho é o das forças.
Allan Kardec, O Livro dos Espíritos
Há pessoas que parecem ter alergia ao trabalho.
E procuram todas as desculpas possíveis para justificar a sua indolência.
Certamente fazem parte da T.B.C..
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Emmanuel comenta, no livro Pão Nosso, a seguinte expressão de Paulo, da 2a. Epístola aos Coríntios:
Cada um contribua, segundo propôs em seu coração; não com tristeza ou por necessidade, porque Deus ama o que dá com alegria.
Refere-se, naturalmente, não apenas à esmola material, mas também a toda cooperação no bem que possamos prestar.
Qualquer trabalho que venhamos a executar, seja ele espiritual, material ou psicológico, deve revestir-se de alegria. Isto é, deve ser realizado sem má vontade, sem queixas, sem insatisfação ou leviandade.
Conclui dizendo que o Pai ama o filho que contribui com alegria.
Os que agem de outra forma talvez sejam sócios da T.B.C..
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Em brilhante artigo intitulado A "patologização" da infância, Sílvia Gusmão destaca a tendência americana de rotular desvios comportamentais de suas crianças.
Malcriação, por exemplo, é rotulada de Transtorno Disruptivo de Desregulação do Humor.
Com isso, a indústria farmacêutica está rindo sozinha, tal o aumento do uso abusivo de medicamentos, para curar as anormalidades.
Conclui o artigo perguntando:
— O que explica a "epidemia" de crianças anormais nos Estados Unidos, enquanto na França o percentual de crianças diagnosticadas é inferior a 0,5% ?
— Os Estados Unidos tendem a "patologizar" o que seria natural no comportamento humano. As crianças francesas são geralmente mais bem
comportadas que as americanas - diz a estudiosa - , adequando-se aos limites estabelecidos pelos pais.
— Nesse sentido, conclui, as crianças francesas não precisam de medicamentos para controlar seu comportamento, porque os pais franceses estão à frente na educação de seus filhos, enquanto na família americana não.
Resumindo: na França a educação previne doenças comportamentais.
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Os desvios de comportamento não podem ser classificados como ato involuntário, sobre os quais não temos controle. Podemos e devemos melhorar a cada dia o nosso modo de ser.
E isso recebe o nome de EDUCAÇÃO. Sem falsas desculpas, sem rotular os educandos de doentes, responsabilizando o indivíduo e quem o
educa por seus atos.
Com certeza, esses que apelam para os remédios, desculpando como se fossem doenças os desvios sociais, fazem parte da T.B.C..
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Afinal de contas, o que é T.B.C.?
Narra Irmão X, no livro Contos Desta e Doutra Vida, a história de três rapazes - Leandro, Jonas e Samuel -, que aparentavam ser sensatos estudiosos do Espiritismo. Durante cinquenta meses teve encontros semanais com o grupinho, com o qual se encantou. Leandro, Jonas e Samuel pareciam três apóstolos da Grande Causa.
Tanta simpatia os três inspiravam, que Irmão X resolveu apontá-los para o amigo Cantídio, sugerindo que os três jovens fossem aproveitados na seara do bem.
Foi assim que Cantídio, certa noite, conseguiu situar os três rapazes num templo espírita, ao qual compareceu também Lismundo, respeitável
orientador que vinha testar-lhes a dedicação.
Começou falando sobre a magnitude do serviço espírita. Logo após entrou diretamente no assunto que ali o trazia. Jonas, Samuel e Leandro
discorreram, brilhantemente, quanto às próprias convicções. Falaram longamente das leituras que haviam efetuado.
Exaltaram os princípios de Allan Kardec, louvaram as páginas de Denis, desfiaram as pesquisas de Crookes e Aksakof e analisaram as
conclusões de Bozzano e Geley com notável mestria.
Depois de duas horas inteiras de verbo, Lismundo os convidou pacientemente para o trabalho: a construção de uma casa de instrução e
consolo... ou talvez a disseminação do livro espírita?... ou talvez um agrupamento destinado à sementeira da luz...
Os ouvintes, contudo, qual se fossem surpreendidos por ducha inesperada, entreolharamse, transidos de susto. Leandro tinha provações.
Samuel acusou problemas familiares, e Jonas afirmou-se sem condições de responsabilidades maiores.
O trio mostrou-se irredutível.
Quando os convites reiterados começaram a ser tomados como inconvenientes, Lismundo despediuse.
Acalmando a decepção de Irmão X, explicou, bondoso: – Não se aflija. Estamos à frente de companheiros filiados à T.B.C. .
Voltaremos em outra ocasião
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Intrigado, Irmão X perguntou ao amigo que o esperava:
– T.B.C.? Que vem a ser isso?
Cantídio respondeu, a sorrir:
– T.B.C. representa a sigla da Turma da Boa Conversa, compreende?
Embora agoniado, Irmão X não pôde ocultar o riso franco.
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Emmanuel, ao referir-se ao contato do apóstolo Paulo com Atenas, em sua página Novos Atenienses, do livro Pão Nosso, lembra que, enquanto o orador atinha-se a conceitos filosóficos, era aplaudido e reverenciado.
No entanto, quando passou a referir-se à continuação da vida, além das ninharias terrestres, os ouvintes sentiram-se desconfortáveis e foram
deixando o recinto, deixando-o quase só.
— Nos dias que correm, continua Emmanuel, estamos passando pela mesma situação.
Normalmente aceitamos bem a teoria. No entanto, se nos convidam ao trabalho, às vezes saímos de fininho e deixamos oradores falando
sozinhos.
Afinal, a que turma pertencemos?
À Turma do Trabalho ou à Turma da Boa Conversa?