0- FAMÍLIA: CONVERSAR É PRECISO Sidney Fernandes

FAMÍLIA: CONVERSAR É PRECISO
Sidney Fernandes


Antigos laços de consanguinidade podem viabilizar a reunião de afeiçoados em moradias do plano espiritual. Familiares geralmente são espíritos com quem tivemos afeições anteriores.
Assim como os espíritos se agrupam em famílias, de acordo com seus pendores, a família terrestre, os povos e as cidades se formam pela reunião de criaturas simpáticas que se assemelham, constituindo o meio que lhes é próprio.
Afinidade, laços de simpatia e objetivos que almejam formam grupos e famílias. Os bons, pelo desejo de fazerem o bem, os maus, pelo desejo de fazerem o mal, ambos pela necessidade de se aproximarem dos que se lhes assemelham.
A comunicação entre o casal, irmãos, filhos e com amigos dos filhos é fundamental para que haja relação familiar saudável. Ela facilita a superação de diferenças que trazemos no insconsciente, de vidas anteriores, de mágoas, felizmente amenizadas pelo esquecimento, misericordiosa bênção de recomeço sem culpas.
O que é comunicação indireta? Ela acontece quando há uma entidade intermediária entre quem recebe e envia a mensagem.As causas da comunicação indireta não se restringem aos vivos.
Desencarnados se imiscuem nas vidas dos familiares. No livro Sexo e Destino, de André Luiz, temos vários exemplos dessas interferências, que trouxeram muitos desajustes e desentendimentos entre familiares. A influência do intermediário pode chegar, infelizmente, a crimes e vícios.
BARREIRAS DA COMUNICAÇÃO
A comunicação entre nós e nossos familiares é de real importância, sendo fundamental para se criar um ambiente de paz e felicidade em nosso lar. Precisamos ser cuidadosos com o que falamos e como falamos com nossos pais, filhos, irmãos e irmãs, de modo a evitar mágoa, dor e frustração, tanto para eles como para nós.
Devemos atentar não somente para o conteúdo da mensagem que passamos, seja ela falada ou através de atitudes. A forma é fundamental. Muitas vezes, não é o que transmitimos que agride e sim como transmitimos.
Como evitar que professores se tornem intermediários na comunicação com nossos filhos? Com a comunicação no lar e o acompanhamento. Crianças que são acompanhadas de perto pela família têm melhor rendimento em sala de aula ou em aulas remotas. Além disso, a presença dos pais no âmbito escolar — de forma presencial ou virtual — e o cuidado deles com a educação dos filhos no lar, não se reflete apenas no boletim, mas também no comportamento das crianças dentro e fora da sala de aula.
Somos espíritos diferentes, embora pertencentes à mesma árvore familiar. A comunicação deve levar em consideração o comunicador e quem recebe a comunicação. Temos certeza de que nossas diferenças não estão impedindo uma comunicação adequada? Sabendo da eventual existência de “ruídos”, devemos envidar esforços para minimizar essas questões e favorecer uma comunicação mais saudável entre as pessoas à nossa volta, principalmente em se tratando de família.
SENTIMENTOS PRECISAM SER ADMINISTRADOS
Raiva, insatisfação, decepção, alegria, tristeza, entre outros sentimentos, oriundos da presente existência ou de vidas anteriores, precisam ser superados ou administrados. “Ruídos” das comunicações podem se originar do passado, por questões não resolvidas em vidas anteriores. A vida atual, de convivência no mesmo lar, representa, muitas vezes, grande desafio aos antigos familiares, que se reencontram para resolver suas diferenças e ensaiar fraternidade.
É preciso considerar ainda a possibilidade de interferência de antigos desafetos espirituais, que podem dificultar a comunicação entre familiares de agora e do pretérito. Quando baixamos o nível do nosso relacionamento, por palavras, gestos e atitudes, atraímos espírito infelizes, doentes ou mesmo até obsessores, que vêm “minar” a vida familiar.
Comunicação malfeita dispara sentimentos ruins, que, por sua vez, atraem espíritos inferiores, que podem “envenenar” de vez o relacionamento familiar. Trata-se de autêntico exemplo de comunicação indireta provocada por desencarnados, com sérios comprometimentos para o grupo familiar A pandemia desnudou sérias falhas na comunicação. Muitas famílias foram obrigadas a rever suas relações, sentimentos e espaços no ambiente compartilhado de suas casas. A proximidade intensa pode ter provocado a manifestação de emoções que anteriormente teriam sido evitadas. Nessa situação extraordinária, agiganta-se em importância o aglutinamento da família em torno de uma religião. O evangelho no lar é o fórum ideal para que os familiares encontrem o denominador comum, a fim de que as diferenças sejam minimizadas e respeitadas.
FELICIDADE CONJUGAL
O Espiritismo é a doutrina da consciência livre e da responsabilidade. Cada um de nós tem liberdade de tomar as decisões que achar melhor, arcando, naturalmente, com as consequências. A sabedoria divina — ensina Emmanuel — não institui o princípio da violência, dispondo cada espírito da liberdade de interromper, modificar, discutir ou adiar compromissos assumidos perante a lei humana.
Ser feliz no casamento depende das nossas escolhas. Há pessoas que escolhem cair na rotina e preferem esquecer de demonstrar a sua afetividade. Essa escolha determina a morte da relação conjugal.
Os que não se separam é porque não têm coragem, ou levam às últimas consequências eventuais compromissos espirituais, ou se acomodam, ou ainda porque têm motivos mais relevantes — filhos por exemplo — para manter uma união infeliz.
Sugiro, caros amigos, que não deixem as coisas chegarem a esse ponto. Mesmo que você sinta que não está ao lado daquela que poderia considerar sua alma gêmea, faça como Benjamin Disraeli, político conservador britânico.
Durante trinta anos, Mary Anne viveu para Disraeli, e ele a defendia com uma lealdade feroz. Um casal motivado pelo amor e pela paixão, que se uniu e viveu uma vida maravilhosa? Apenas uma parte da verdade.
– Eu posso cometer muitas loucuras na vida, mas não pretendo nunca me casar por amor — dizia Disraeli.
Ficou solteiro até os trinta e cinco anos, quando propôs casamento a uma viúva rica, Mary Anne, quinze anos mais velha do que ele. Ela sabia que ele não a amava e que ia desposá-la pelo seu dinheiro. No entanto, ficaram casados durante 30 anos e ...nunca me senti fatigado dela –, dizia Disraeli. Ela soube tornarse a coisa mais importante de minha vida.
E ela costumava dizer às suas amigas:
– Graças à sua bondade, minha vida tem sido uma longa cena de felicidade.
O lar era o lugar onde ele passava as horas mais felizes da sua vida. A idosa esposa era a sua animadora, a sua confidente, a sua conselheira. Ele passara a sair apressado da Câmara dos Comuns para voltar à casa, a fim de lhe contar as novidades do dia. Ela tornou-se a sua heroína.
– Você sabe que eu apenas casei com você pelo seu dinheiro e nada mais? – falava Disraeli, em tom de pilhéria.
– Sim, mas se você tivesse de fazer isso outra vez, casar-seia comigo por amor, não é? E ele confessava que sim.
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Eles não eram perfeitos. Mas ambos se fizeram perfeitos um para o outro. Descobriram suas mútuas qualidades e se amaram por toda a vida. Provaram ao mundo que amar, acima de tudo, é compreender e doar-se, incondicionalmente. Eles são o exemplo de que duas criaturas, quando querem, podem encontrar motivos recíprocos para uma boa convivência. E daí sim podem despertar o autêntico amor.
***
Mas mesmo que a união não seja com a alma gêmea, o casamento pode se harmonizar com o exercício da boa vontade, da generosidade, da compreensão e da cumplicidade. Esses ingredientes, indispensáveis ao florescimento do verdadeiro amor, fazem parte não apenas do amor conjugal, mas sim da proposta da família universal trazida por Jesus.
VOU DAR UMA DE CHICO
Minha esposa havia levantado muito cedo. Cuidara do café da manhã, da casa, do almoço, dos filhos e precisara sair, às pressas, para dar assistência à mãe viúva. Com muito bom humor, ainda teve tempo de gritar:
— Tenha um bom dia, querido. Quando voltar cuidarei da cozinha...
Não pude deixar de admirar, com respeito, aquela energia e aquele dinamismo. Ao me preparar para ir trabalhar, vi que estava deixando para trás uma montanha de panelas e pratos sujos na pia da cozinha, que serviriam de boas-vindas à prestimosa dona da casa em seu retorno. O dia estava tranquilo e eu estava com tempo.
Dei uma boa olhada naquela bagunça, respirei fundo, criei coragem e disse para mim mesmo:
— Vou dar uma de Chico!
Arregacei as mangas e num instante a cozinha estava limpa.
A caminho do meu escritório, ia pensando na bela surpresa que minha esposa iria ter ao deparar-se com a casa limpa.
Não tive o privilégio de conviver com Chico Xavier, mas as várias biografias e histórias publicadas a seu respeito nos dão conta de um personagem que enfrentou uma vida repleta de lutas e dificuldades. Nem por isso deixava a indolência se aproximar, aproveitando todos os momentos possíveis para ser útil.
Certa vez, chegando em casa de madrugada, depois de uma jornada intensa de trabalhos com os espíritos, Chico deparou-se com uma cozinha repleta de pratos sujos e uma generalizada bagunça provocada pelos cães da casa.
Pensou: — Imagino o desânimo que minha irmã vai ter ao levantar-se de manhã, ao deparar-se com toda essa sujeira.
Não teve dúvidas. Não obstante o cansaço, deixou o ambiente brilhando.
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Trouxemos vários exemplos, experiências e aconselhamentos psicológicos e sociais para a nossa reflexão. Mais do que tudo, porém, precisaremos ter consciência de que a família é o ambiente que Deus nos concedeu generosamente, tanto para que exercitemos a empatia e a solidariedade, como para que possamos superar diferenças do passado.
Valorizemos o ambiente que Deus nos proporcionou nesta existência, acima de tudo treinando fraternidade e benevolência.
Sabe-se lá se na próxima vida teremos as mesmas facilidades.


Referências: Fonte – IDE – Instituto de Desenvolvimento da Educação – A comunicação familiar – texto publicado no Portal da Família, em 25/11/11; Ser feliz é uma decisão, Sidney Fernandes.