Morte – Em sua expressão mais simples -Sidney Fernandes

MORTE – EM SUA EXPRESSÃO MAIS SIMPLES

-Sidney Fernandes

PERGUNTAS E RESPOSTAS

1 – Como superar o medo da morte?

Se tivéssemos consciência de que o regresso à Terra nada mais representa do que um mergulho de um escafandrista na matéria densa, encararíamos a morte como libertação para a vida verdadeira.

Dependendo de como vivemos, o confronto com a hora da verdade significa o rompimento dos grilhões da matéria, que nos possibilita contemplar as realidades do além-túmulo.

2 – A morte traz algum sofrimento?

Nos primeiros momentos, como é compreensível, o morto se sente aturdido, principalmente quando não se preparou convenientemente para a outra vida. Se, no entanto, teve um mínimo de empenho para se conservar na dignidade, na honradez e no cumprimento dos deveres, em breve estará bem, como ave que deixou a gaiola. É bom lembrar que sempre será possível contar com o amparo de familiares, amigos e benfeitores que nos antecederam na grande viagem.

3 – Demora para passar o trauma da morte?

Os que partem com a consciência tranquila em breve se recuperarão e se readaptarão à nova vida, que nada mais é do que a continuidade do processo evolutivo, momentaneamente modificado com o mergulho na carne.

4 – Como ficam parentes, amigos e pessoas queridas?

Os que nunca cogitaram da morte ou evitaram falar dela e adiaram indefinidamente a reflexão sobre o assunto, como se sua hora nunca fosse chegar, com certeza ficarão perplexos, diante de um corpo sem vida, principalmente se ela ocorrer inesperadamente, sem terem tido tempo de se preparar para a separação. Tenderão a perder o controle, a serenidade e o equilíbrio.

Curiosamente, os que se deixam levar pelo desespero e pela revolta, causam estranheza ao falecido, que geralmente encontra situação bem mais confortável do que aquela em vida, pois na nova condição não há dores, apreensões materiais ou ingente preocupação com a sobrevivência. Por que choram os que ficaram se o falecido se encontra bem, leve e em situação muito mais agradável do que desfrutava em vida?

As reações desesperadas das criaturas ligadas ao morto, além de surpresa, costumam também lhe causar perturbação, pois passa a reviver os momentos infelizes por elas evocados. Preparemo-nos sempre para a nossa morte e a eventual partida abrupta de nossos entes queridos, na certeza de que, mais cedo ou mais tarde, estaremos nos campos da imortalidade.

5 – Como ter resignação na morte de pessoa querida?

Há pessoas que nascem com fé inata. Ainda que venham a professar determinada doutrina religiosa, não dependem dela para se manterem conectados com a espiritualidade, tamanha é a confiança que têm no Criador e em seus mensageiros. Essa forte convicção lhes proporciona resignação e claro entendimento das leis universais. São providas do que costumamos chamar de profunda fé. Nada as abala.

6 – Como adquiriram semelhante dom?

Não se trata de privilégio concedido, como se fossem escolhidas a dedo pela divindade. Somos todos iguais perante Deus. No passado, passaram por situações difíceis que as levaram a cultivar com afinco a ligação com a espiritualidade, como quem se apega a uma tábua salvadora, durante a tormenta.

Voltam a esta vida com inabalável convicção. Já nascem sabendo. Não por indébita concessão, mas por méritos adquiridos, depois de muita devoção e persistência. Essas criaturas falam da continuidade da vida com naturalidade, segurança e certeza.

7 – É uma questão de fé?

Sim, mas uma fé calcada na plena consciência da grandiosidade da vida, que não dispensa a razão. Uma fé baseada em fatos vividos nesta e em vidas anteriores.

Espíritas são providos dessa fé inabalável? Não apenas os espíritas. Seria inadmissível presunção atribuir apenas aos espíritas o equilíbrio e a serenidade diante da morte. Inúmeros profitentes de outras crenças são dotados desse mesmo comportamento, inexplicável para alguns, perfeitamente entendível para os que se iniciam nos passos da espiritualidade.

 

8 – Como obter informações do outro lado da vida?

Quando me interesso pelos hábitos e modo de viver de país desconhecido, como devo me comportar? Comunicando-me com os seus habitantes ou lendo seus relatos e mensagens. É o que acontece com os que se prestam a conversar com aqueles que já passaram para o outro lado da vida. Quando entramos em contato com o continente espiritual, obtemos preciosas informações de como é o lado de lá. Esses relatos sustentam a convicção espírita na sobrevivência do espírito, diante de incontestáveis provas daqueles que partiram e voltam para dar seus testemunhos inquestionáveis.

9 – Qual é o método infalível para adquirir serenidade na morte?

Temos que nos lembrar de infalível método que nos dá, intimamente, a plena certeza da continuidade da vida, após a morte: o sentimento. Quem ama pode detectar a presença imperecível da criatura amada. É como se fosse um sexto sentido que a faz perceber e permutar impressões sublimes com aqueles que já partiram, na certeza do breve reencontro.

10 – Mortos se comunicam com os vivos?

Todas as pessoas são dotadas, em maior ou menor grau, de sensibilidade, que lhes permite colocar-se em contato com os espíritos de pessoas mortas. Estudos metapsíquicos atestam a possibilidade de pessoas vivas se comunicarem, telepaticamente, isto é, pelo pensamento, em circunstâncias especiais e guardadas determinadas condições, com outras pessoas vivas.

O homem é um espírito, envolto por invólucro físico. Os que morrem simplesmente não dispõem mais dessa carcaça, mas continuam tendo a consciência que detinham quando estavam vivos, com maior liberdade de deslocamento e de manifestação. Os que partem para a outra vida continuam nos amando e se preocupando conosco. Natural que procurem meios para se comunicar com os que ficaram.

11 – A mediunidade foi inventada pelo Espiritismo?

A sensibilidade mediúnica sempre existiu. Há inúmeros registros históricos de fenômenos medianímicos nos anais da história humana. Também no Evangelho de Jesus encontramos pontos expressivos que demonstram a autenticidade da atividade dos médiuns, principalmente nos Atos dos Apóstolos.

A partir do surgimento do Espiritismo, com o ordenamento e catalogação das informações obtidas por Allan Kardec dos espíritos, médiuns notáveis, de todas as partes do mundo, passaram a dar publicidade às centenas de comunicações de pessoas que partiram para o além, com incontestáveis provas de autenticidade.

São nomes, circunstâncias, dados dos quais somente eles tinham conhecimento e principalmente o modo de se expressar. Assim como acontece com as impressões digitais, que permitem, no mundo dos negócios e da investigação policial, segura identificação pessoal, a maneira de falar e de escrever são características de criaturas que conservam, do outro lado da vida, suas marcas inconfundíveis.

12 – Pessoas preocupam-se com a morte?

Considerada pela civilização ocidental como algo tétrico, terrível, como a pior desgraça que possa acontecer, a morte geralmente é ignorada, esquecida e raramente cogitada.

Raros são os que se preparam adequadamente, sem se preocupar de onde vieram, porque vivem e para onde vão, depois da morte. Preocupam-se com o imediato e com a satisfação de suas necessidades materiais, como se nunca fossem morrer. Consideram a morte algo remoto, distante e que jamais deveria acontecer.

Mas, a verdade é que ela fatalmente acontece e deveria merecer nossas reflexões, em preparação para a morte nossa e de familiares queridos.

 

13 – O que é a morte?

Se às vezes se te afigura

         Que sou a foice impiedosa,

         Horrenda, fria, orgulhosa,

         Que espedaça os teus heróis,

         Verás que sou a mão terna

         Que abre abismos profundos,

         E mostra bilhões de mundos,

         E mostra bilhões de sóis.

 

         Conduzo seres aos Céus,

         À luz da realidade;

         Sou ave da liberdade

         Que ao lodo da escravidão

         Venho arrancar os espíritos:

         Dou corpos às sepulturas,

         Dou almas para a amplidão!

Castro Alves

 

A extraordinária poesia de Castro Alves, que voltou da morte com seu mesmo estilo e verve, é o exemplo marcante da imortalidade da alma. Por intermédio do maior médium de todos os tempos, Chico Xavier, o romântico “poeta dos escravos” nos traz, sinteticamente, sua visão da morte.

14 – Por que algumas pessoas aceitam a morte com serenidade e outras entregam-se ao desespero?

Mais do que somente uma questão de maturidade, a instintiva confiança em Deus, que tudo provê e escreve sempre certo, confere absoluto equilíbrio àquele que vê na morte apenas breve separação. Além disso, quem estuda o assunto, gradativamente vai superando a ideia do aniquilamento absoluto para assumir postura evolutiva, perante as coisas da vida.

Quando passamos a aceitar com convicção que a vida continua, que nossos amados estão apenas ausentes, como quem mudou para outro país, enfrentamos a separação com serenidade, na certeza do reencontro.

É claro que ainda há o sofrimento. Quando nos separamos de um ente querido, sentimos uma espécie de amputação psicológica. Quando passamos por algum trauma físico, precisamos de algum tempo para a adaptação.

Assim também ocorre com a morte. Se entendemos que se trata da vontade de Deus, que precisa ser entendida e aceita, adquirimos maior resignação e compreensão do problema e nos mantemos na serenidade. Não há mal ou dor que resista ao tempo.

15 – Não devemos chorar quando perdemos um ente querido?

É absolutamente natural que nos sintamos tristes com a partida de um ente querido. Principalmente quando ocorre a inversão do ciclo natural da vida, em que filhos partem antes dos pais. O choro e a saudade fazem parte do processo de ressignificação da vida, quando a criatura que amamos nos antecede na grande jornada e, não obstante, buscamos retomar nossas atividades normais.

16 – Nossa revolta prejudica entes queridos?

A inconformação e a revolta, sem o algodão da resignação, refletem-se negativamente sobre nossos amados. Crianças, principalmente, são imediatamente atendidas pelos protetores espirituais e não entendem a nossa tristeza. Afinal de contas, estão bem, libertas e dispõem de excelentes perspectivas, na espiritualidade, sem as dores e os incômodos da vida física.

17 – Conte-nos o caso de Luzia, mãe de Lucas.

Lembro-me de acidente ocorrido décadas atrás, em que grupo de crianças em excursão sofreu grave acidente, com a morte de quase todos.

Luzia, mãe de Lucas, de dez anos, não se conformava e entrou em profundo processo depressivo. Ia ao cemitério todos os dias, lacrou o quarto do menino e recusava-se a doar seus bens. Inconsolável, revoltada com Deus, não se resignava diante do fato. Luzia entregara-se de tal forma à tristeza, que parecia desistir de viver, para unir-se ao filho.

18 – Obteve alguma ajuda?

Orientada por amigos do centro espírita, foi a Uberaba, na tentativa de obter consolo ou, talvez, alguma explicação para a sua terrível perda.

A décima carta lida por Chico assim dizia:

— Por que essa tristeza, mãe Luzia? Estou com vovô Ernesto e vó Cacilda e tenho acompanhado todo o esforço da Tia Alice para trazê-la de volta à vida.... Abra e areje meu quarto, mãe, doe minhas coisas. A sua tristeza está me fazendo muito mal, me contagiando e me entristecendo também.

19 – Qual foi a reação de Luzia?

Luzia sentiu-se renovada. Respirava agora a longos haustos, não mais na toada do desespero, mas na pauta de uma suave brisa de esperança. Seguiria rigorosamente os conselhos do filho e tomaria todos os cuidados possíveis para não mais contagiá-lo com sua tristeza.

20 – Conseguiu superar a dor da perda?

Na semana seguinte, Luzia estava na creche mantida pelo centro espírita. Levava consigo, não apenas as preciosas roupas de Lucas para doação, mas o coração revigorado, confiante no glorioso porvir que seu filho havia lhe revelado.

21 – Nossos amados continuam nos amando depois da morte?

Nossos amados que partiram desta vida não estão em compartimentos estanques e distantes. Torcem por nós, preocupam-se com nossas vidas e, quando lhes é permitido, vêm ao nosso encontro, com sua gloriosa mensagem de imortalidade. Nós podemos, inadvertidamente, permanecer de luto, por tempo indeterminado. Eles não, e esperam ansiosamente pelo reencontro conosco.

22 – Por que as crianças morrem?

Quando ocorre o desencarne de alguém que viveu muito tempo, naturalmente surge a conformação, entendendo-se que aquela criatura cumpriu sua missão e chegou o momento do seu retorno à espiritualidade. O mesmo não acontece diante da morte de crianças ou jovens, como se sob o ponto de vista espiritual estivéssemos tratando de criaturas ingênuas e imaturas. Por trás de cada espírito há experiências pretéritas, cada uma delas ensejando um tipo de resgate ou reparação.

A criatura de tenra idade muitas vezes vive por pouco tempo em virtude de vidas anteriores que não se completaram, envolvendo, geralmente, a cumplicidade dos pais, que também sofrem pelas partidas prematuras.

Muitos necessitam, para se equilibrarem, do choque biológico da reencarnação. A mudança existencial e o necessário esquecimento do passado, naturalmente provocados pelo mergulho na carne, são valiosos instrumentos de reformulação de paixões e fixações originadas em fracassos do passado.

Há também os que foram lançados à espiritualidade com graves desajustes perispirituais, provocados pelo suicídio, pela imprudência ou pela proliferação de venenos, que vêm de fora para dentro, ou dos que surgem de dentro para fora, ambos originados de abusos do corpo ou da alma.

De toda forma, a breve existência, embora lamentada, funcionará como válvula de escoamento de impurezas, com vistas a melhores condições em experiências futuras. Atuará como desagradável, mas necessária intervenção cirúrgica, a fim de extirpar organismos deletérios que anuviam a constituição perispirítica.

Há ainda espíritos que se comprometeram no passado em crimes contra a infância. Plantaram más sementes e agora colhem amargas colheitas.

Mesmo que a morte da criança seja em tenra idade, sem que praticamente haja despertado para a vida física, sempre há benefícios para o espírito e para os pais. Seja porque eles no passado separaram filhos de seus genitores ou porque recusaram a paternidade.

Finalmente, é preciso desconsiderar a hipótese de castigo divino, já que a criança não está sendo castigada, nem punida, pois a lei divina é educativa. No futuro, veremos não apenas o presente, mas também os comprometimentos do passado daquela criatura. Então, ficará mais fácil e lógico aceitar os desígnios divinos.

23 – Benfeitores espirituais podem ter breve existência na Terra?

Flávio e Ernestina  eram tutelados de Olegário, que os acompanhava há muito. O mentor começou a se preocupar com o casal, que permanecia alheio aos seus compromissos espirituais.

Uma inesperada gravidez trouxe Lucas para sua casa.  Quando o menino nasceu, tornou-se imediatamente centro das atenções e a alegria da família. Lindo, forte, calmo e sorridente, o bebê parecia um verdadeiro santinho.

Lucas revelou-se criança especial, em todos os sentidos. Não se sabia o que mais chamava a atenção dos pais e dos que os circundavam: se a precocidade, a inteligência ou o carinho que a criança tinha em relação aos familiares.

A vinda do menino — verdadeiro missionário — apagara o antigo empolgamento dos pais pelos programas vazios. Havia um muito mais empolgante: curtir o querido filho. Infelizmente, para os olhos humanos, ocorreu uma tragédia. Lucas adoeceu subitamente e precisou ser internado com urgência.

Depois de vários exames, o diagnóstico terrível: meningite meningocócica, do tipo B, a mais grave. Em poucas horas o menino faleceu. Flávio e Ernestina passaram a se comportar como sonâmbulos, vivendo interminável pesadelo, incapazes de voltar à normalidade.

Depois de meses, o tempo repetiu o eterno milagre, recompondo neles a vontade de viver. No entanto, nunca mais seriam os mesmos. Haviam perdido as ilusões. Encontraram consolo na Doutrina Espírita, com as informações sobre a vida além da morte e a perpetuidade das ligações afetivas com nossos entes queridos.

Convidados, aceitaram participar de serviços assistenciais, devotando-se a crianças carentes. Parecia que Lucas estava junto deles. Parecia não, estava realmente ao lado deles, prestando carinhosa assistência.

Olegário, por amor e responsabilidade ao casal Flávio e Ernestina, partira para o sacrifício e pedira breve mergulho na carne, com a missão de arrebatá-los do perigoso sorvedouro dos enganos humanos.

Aqueles que se debruçam sobre o esquife de uma criança, junto da qual sepultam suas alegrias e esperanças, precisam saber que nada acontece por acaso. Há boníssimas almas que renascem na Terra para aqui permanecer por breve tempo, com o objetivo de despertar corações queridos, que vacilam para cumprir compromissos assumidos.

24 – Por que crianças morrem em circunstâncias trágicas?

Crianças gozam de proteção especial da espiritualidade. Espíritos elevados são designados para ficar ao lado delas, desde que nascem, procurando preservar-lhes a integridade. Somente após sete anos de existência, quando se consolida o processo reencarnatório, é que a tarefa do amigo protetor é amenizada, passando ele a seguir o protegido em sentido mais distante.

Quando ocorre grave acidente ou morte de uma criança em circunstâncias trágicas, é justo afirmar que está se cumprindo um programa cármico. Pais e responsáveis não deveriam se culpar. Se adotaram todas a medidas possíveis para proteger a criança, provavelmente estarão diante de situação que deveriam passar.

O nível evolutivo da criança vai definir o que vai lhe acontecer depois da morte. Espíritos já amadurecidos retomam suas personalidades de adultos, assim que morrem. Outras, porém, de mediana evolução, são atendidas por familiares ou amigos espirituais, que acompanham seu desabrochar, na espiritualidade, como se estivessem ainda na Terra.

Na literatura espírita encontramos o caso de Júlio, narrado por André Luiz, que teria se suicidado no século XIX, durante a guerra entre Brasil, Argentina e Uruguai contra o Paraguai. Júlio ingeriu grande quantidade de veneno, que não o matou, por ter sido socorrido a tempo. Mesmo enfermo, obstinado com a ideia do suicídio, arrojou-se na corrente de um rio, encontrando o afogamento, que o separou do envoltório carnal.

Na vida espiritual, Júlio sofria muito com as doenças que provocara na própria garganta e com os pesadelos da asfixia. Em nova vida, ainda criança, desencarnou novamente e somente em sua terceira encarnação obteve corpo em melhores condições para prosseguir na jornada evolutiva.

Júlio não estava sendo castigado e sim limpando as marcas cinzentas que ficaram impregnadas em seu corpo perispiritual, quando, iniciamente, queimou deliberadamente sua laringe com corrosivo, e depois, quando se atirou nas vigorosas águas do Rio Paraguai e se afogou.

A carne — ensina André Luiz — não é apenas o veículo que proporciona o crescimento de potencialidades, mas também é uma espécie de carvão milagroso que absorve os tóxicos e resíduos de sombra que almas trazem no corpo substancial.   

Nós nos castigamos quanto praticamos o mal contra os outros ou contra nós mesmos. Daí ser difícil entender a situação de uma criança que nesta vida nada fez de errado. A chave da reencarnação é a resposta para todas as supostas injustiças divinas.

25 - Onde devemos orar pelos nossos mortos?

Boris Fausto, historiador e cientista político brasileiro, jamais havia cogitado da morte até que aconteceu a partida de sua amada companheira de 49 anos de convivência. Vamos encontrá-lo no cemitério do Morumbi, em São Paulo, diante da lápide de bronze de sóbrio túmulo. Conversa com a esposa, em voz alta, como se pudesse acordá-la do sono eterno, cuja expressão abomina porque, em seu íntimo, sabe que ela ali não está. Na verdade, ao lembrar-se de sua privilegiada inteligência, sua cultura, sua verve e o brilho da sua existência, pergunta-se por que ele se encontra naquele lúgubre local.   

  — A esmagadora tristeza — pensa — não me autoriza a sequer pensar que eu haja perdido aquela pessoa querida.

O inteligente escritor tem razão. O incontável tempo de aprendizado, tanto daquela alma amada, quanto de milhares de valores do intelecto, da arte, da ciência e do coração, prosseguem na sua jornada de aprendizado, rumo à perfeição. Seus indestrutíveis corpos espirituais nada mais têm a ver com as vestimentas materiais que abandonaram.

26 – Os mortos não estão no cemitério?

Os mortos não estão mais no cemitério. Alguns estagiaram lá por pouco tempo. Outros, nem por ali passaram. À exceção dos que deliberadamente desprezaram os patrimônios da vida humana e permaneceram destituídos de espiritualidade, e por isso ficaram apegados por mais tempo aos seus restos mortais, os demais vão cuidar das suas vidas, em outra vida.   

Raciocinemos que é de extremado mau gosto marcar encontro com um ente querido em um cemitério. Não apenas os espíritas, mas todas as pessoas que raciocinam, têm plena consciência de que a retidão de conduta, o esforço em acertar e as boas coisas que nossos amados falecidos conquistaram em vida não vão lhes proporcionar a inusitada recompensa de viver num cemitério. Com certeza estão muito bem, aprendendo, pensando e dando sequência aos seus maravilhosos planos de vida, nos maravilhosos lugares do plano maior.

27 – Qual é a melhor morte? Por longa enfermidade, repentina ou por acidente?

Talvez a pergunta correta não devesse ser essa e sim esta:

 — Qual é a melhor maneira de se viver?

Egoístas, que prejudicam semelhantes, que fazem da vida um fim em si, cultivam vícios e paixões e se apegam demasiadamente às coisas materiais, tendem a se distanciar de qualquer noção de espiritualidade e desprezar os patrimônios superiores. Quando morrem, os que vivem assim tornam-se sérios candidatos à retenção mais ou menos longa aos seus despojos carnais e a um desligamento mais difícil.

Por outro lado, os que agem adequadamente, procuram seguir os ditames divinos, respeitam e agem no bem, buscam, antes de partir, reconciliar-se com adversários e desafetos, e tentam resolver as dificuldades, sem adiá-las indefinidamente, estão se preparando adequadamente para qualquer tipo de morte.

28 – Morrer de repente por um enfarte, por exemplo, não seria a melhor morte?

Enganam-se os que acham que a morte repentina é a melhor das opções. A não ser que se trate de almas altamente espiritualizadas, os que partem inesperadamente poderão ter problemas de desligamento e adaptação, pois preponderarão as impressões e interesses relacionados com a existência física.

A doença prolongada auxilia a depuração do espírito, como válvula de escoamento de impurezas morais, e o torna mais receptivo aos apelos da religião, aos benefícios da prece e às reflexões sobre a vida que se finda. O mesmo acontece com pessoas de idade avançada, cujas vidas se extinguem mansamente, com retorno tranquilo, sem maiores percalços.

29 – Há casos em que o morto fica preso ao seu cadáver?

André Luiz narra um triste caso de infeliz mulher que se encontrava no cemitério, ainda com o fio prateado de seu perispírito ligado ao corpo físico, sentindo todos os fenômenos da decomposição cadavérica. Condoído, André fez menção de libertá-la daquela trágica situação, quando foi advertido por um dos encarregados da assistência espiritual daquela necrópole.

Infelizmente, os sofrimentos daquela mulher eram necessários, em virtude de sua alta desordem emocional. Mesmo tendo sido auxiliada por amigos espirituais, não demonstrara qualquer receptividade à ajuda superior. Caso fosse libertada extemporaneamente, voltaria de imediato ao antigo lar para atormentar o filho e o marido. A lição era dura, mas lógica.

30 – Qual é a fórmula ideal para enfrentar a morte?

A melhor fórmula é ter consciência de que vamos nos transferir para a outra vida como se trocássemos de residência.

Vivendo cada dia como se fosse o último, faremos todo o bem possível e evitaremos o mal que poderíamos praticar. Assim, se aprouver a Deus nos chamar, a qualquer momento estaremos preparados para enfrentar a morte.

 

Nota do autor: Esta série de perguntas e respostas tem como base o texto do CD “Quem tem medo da morte? ”, gravado por Richard Simonetti e Sidney Fernandes.